drakemberg

A visão longinqua daquela muralha, que corre de norte para sul ao longo da Africa austral,e à  qual nunca cheguei.ficou-me a recordação.assemelha-se,À  escarpa da chela,Angola,que tem a seus pés o deserto da namibia, que contempla, há¡ milhões de anos numa estenção de cerca de 150 kilometros.

terça-feira, julho 31, 2007

Hoje vou dissertar sobre mim mesmo

Decorria o ano de mil novecentos e setenta quatro,já tinha dois filhos angolanos,o Jorge Manuel e a Ana Cristina. De vez em quando questionava-me sobre o futuro deles. Naquela noite,durante o meu turno de trabalho,entre as duas e tres horas da madrugada, o trabalho decorria descontraidamente. Tinha as tinas de preparação do mosto para a cerveja Nocal todas em actividade.A tina final fervia trinta e dois mil litros de mosto prontos a descarregar para a cave de fermentação,a tina de filtração libertava o seu líquido límpido para o depósito de retém, Uma estava na fase da libertação da maltose e dos amidos da cevada com que se fazia aquela bebida tão estimulante,a quarta preparava o gritz de milho que a seu tempo seria misturada com o malte da terceira neste momento o que tinha em preparação era gritz de arroz pois era com arroz que se preparava a super loira,tão acariciada ao tempo.Percebeste bem eu disse arroz.Estando tudo a correr tão bem, subi ao terraço da fábrica para um pequeno periodo de descontracção.Era ali que retemperava forças e que me fazia suportar a faina, na sala o calor das caldeiras, junto com o do clima era sufocante.Aqui no terraço uma ligeiríssima brisa corria vivificante. A noite tombando desenhava no horizonte silhuetas recortadas da ilha de Luanda ao longe, mais perto o bungo com suas fabricas de farinha de peixe,onde as luzes tremulinavam. Tirando o ligeiro ruido da chaminé que, no seu impuxo para o exterior do vapor e do ar quente das caldeiras, não fora isso o silencio era mortal.E era assim há seis anos. Mas naquela noite inopinadamente, umas luzes multicores iluminaram o céu ao longe, e mais se sucederam noutras direcções matutei o que seria aquilo àquela hora da madrugada? numa coisa eu acertara; aquilo era fogo de artificio, mas porque àquela hora. Desci para as fainas rotineiras.Comentei com os colegas da cave, mas o mistério pressistiu. Tambem não sabiam nada.


19 de Fevereiro de 2008
Estava em pulgas,e assim que saí do turno, por volta das cinco horas da madrugada; logo me foi desvanecida a dúvida, pelos colegas que nos vinham render. Em Lisboa tinha havido um golpe de estado. Ora estava explicado o mistério do fogo de artificio nocturno.Desci à cidade e juntei-me à turba que já por lá andava em, comemorações desde de madrugada.O dia da semana era uma quinta-feira,o do calendário vinte e cinco de Abril,de 1974.Aproximavam-se grandes mudanças,mas naquela altura não discernia nem atinava quais, tambem não interessava muito a hora era de comemorar e era isso que eu fazia naquele momento.já tarde regressei a casa, e vejam só senti ansias de manifestar essa explosão, e escrevi à minha mãe uma longa carta onde inaltecia o facto. Não vivera eu por acaso, naquela època complicada, na qual meu pai sentia necessidade de nos andar sempre a dizer? Rapazes quando alguem estranho na rua vos fizer perguntas; respondam sempre não sei, não vi não estava lá etc etc.A partir daquela altura, a vida continuou a correr como até ali. Mas... começavam a notar-se nuances no dia a dia, quási imperceptíveis para um morendengo, mas não para um residente com vinte e três anos de presensa no território. mas, na verdade, os primeiros a mostrar sinais comportamentais muito ténues sobre o assunto foram os naturais. Nós só ganhámos em aprender com eles,e eu assim fiz. O pessoal que comigo formava a equipa que na fábrica trabalhávamos nos mesmos períodos horários,falávamos abertamente no que estava a acontecer e nas transformações radicais que aí advinham. Era, de facto, um periodo de tempo com algo de poetico. Para mim,

avizinhava-se rápidamente, um período de férias em Portugal. E isto, por força do contrato que tinha com a empreza, onde laborava. Em Julho, iria pois, após cinco anos de serviço, gozar umas férias. E depois logo se veria ! Era, mais ou menos assim que pensava. Mas a realidade começou a sobrepôr-se. E naquele meados de julho, aconteceu aquilo que já se vinha adivinhando. Um taxista branco, foi degolado nos suburbios. Este evento, acirrou os animos e dali para frente, não saberia como seria. Foi por causa deste acontecimento que, o governador Silvino Silvério foi retirado do cargo. E para Angola foi a partir daquela altura, nomeado um alto comissário. Por isso esquece! E quando a data chegou, lá fui de férias há metrópole como então era conhecido por aquelas bandas Portugal. Por isso por agora era melhor,não me preocupar e deixar correr o marfim., lá fui com a mulher e dois filhos, gozar umas férias após cinco anos ao serviço da empresa. Quis o destino que a data do evento fosse contemporânea a esta viagem. Iria pois assistir ao nascimento in-vitro, da nova ordem que estava a despontar por aquelas bandas, e com muita curiosidade para saber as implicações que teria na terra em que vivia há vinte e três anos. Ofereci aos meus filhos pequeninos, uma visita ao jardim zoológico. Mais tarde ao Portugal dos pequeninos e museu dos coches e a partir daqui nicles. Comecei o meu curso intensivo de politização. O que via ainda não me parecia hostil, mas aqui e ali já se podia vislumbrar algumas nuances do que poderia acontecer, mas ainda era indiscernível com clareza. Pessoas conhecidas iam dizendo como o tinham dito no ano anterior na estação de S. Apolónia quando cá viera para o 1º congresso de combatentes no Porto. Venham embora daquela terra diziam-nos eles, aquela merda para nós acabou. Este ano de setenta e quatro, e o de setenta e três não lhes dei ouvidos. Não acreditei que fosse molestado, sempre trabalhara por conta dos outros assim como eles, e nos serviços municipais de água e luz começara como simples servente. Naquele tempo alguma vez viste um servente europeu em África, deves de estar doido de certeza. As greves reivindicativas já eram mais que muitas, a gloriosa luta dos trabalhadores portugueses, estava ao rubro, rumo ao alvorecer duma era nova assim como a gloriosa luta dos trabalhadores angolanos rumo à sua libertação das garras da exploração e à sua liberdade total.
3 de Fevereiro de 2009 Estava renitente em deixar a terra,à qual tinha dado a minha juventude. No dia aprazado,para ela rumei, decorria.o mês de Novembro 1974 a única novidade é que por uma questão de precaução, deixei em Portugal a família. Em suma regressei só. Morava agora sózinho, na casa onde residia havia já quatro anos. Ficava a dita na rua Curral das Freiras mesmo encostada á Sigma, e era uma casa de primeiro andar, nunca fora totalmente mobilada e pelo andar que a carruagem levava perdera-se para sempre essa possibilidade. Mobilada "mal"no primeiro andar, mas no rés do chão totalmente oca, vazia, até fazia eco ao falar, é possível que, dada a carga dramática que envolveu aquelas divisões na parte final da derrocada, que, ainda hoje tal como outrora se ouçam as vozes aflitas dos antigos residentes apelando aos gritos! Trás a menina que eu levo o miúdo! A turba, está subindo as barrocas para aqui. Foi assim qual rastilho incendiado que o boato se propagou. Pouco mais de um mês, foi o tempo que levou até começar a receber telefonemas de Portugal. Queixava-se a mulher que não suportava o ambiente lá por aqueles lados, para ela não devia de ser fácil pois viera para Angola com um ano de idade, ainda andava a pensar, não atinando muito bem dada a situação, quando num ápice, me telefona para a ir buscar ao aeroporto de Luanda. Agora é que ia ser posto à prova pois a situação estava num crescendo de instabilidade. Estávamos no natal de mil novecentos e setenta e quatro. O ano de mil novecentos e setenta e quatro, escoava-se rápidamente. Só esperava que, o que se lhe seguia troucesse melhores augúrios. Mas que havia no horisonte da história nuvens bem carregadas, lá isso havia.

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